quinta-feira, 24 de maio de 2012

Zen- A mente satisfeita


Por: Gustavo Mokusen.

Então o seu despertador começa a tocar bem cedo, e isso significa que o seu dia deve começar. E ele toca alto, incomoda, parece berrar, afinal ele é um despertador e serve para te acordar. Sim, despertar às vezes pode ser um incômodo, e particularmente eu acho que ninguém gosta muito de acordar de madrugada e sair da cama quente com uma cara de extrema felicidade. Como nos retiros zen budistas. Acordamos muito cedo nesses retiros, às vezes isso acontece às três da madrugada, e simplesmente nos levantamos, lavamos o rosto, arrumamos a cama e vamos direto para o salão de meditação, em silêncio. O sino toca e sentamos em zazen (meditação zen) por duas ou três horas, em completo silêncio.

Sentamos em silêncio, mas a mente continua a falar. Podemos ver isso quando praticamos com atenção plena, os pensamentos, emoções, memórias e outras atividades mentais continuam brotando em nossas mentes. Eles brotam, passam e desvanecem-se no vazio. Exatamente como nuvens no céu. Podemos nos dar conta da impermanência ocorrendo dentro de nós mesmos, em nossa atividade mental que nunca é interrompida.
Mas nós não lutamos contra isso. Não procuramos reprimir esses conteúdos que brotam e nem nos apegamos a qualquer um em particular. Apenas tomamos consciência deles, do seu surgimento e do seu desaparecimento. Às vezes uma ave canta anunciando o amanhecer. Outras vezes uma formiga passa no chão à sua frente. Uma memória vem. Um pensamento surge. A chama da vela tremula um pouco e sua sombra dança projetada na parede. A barriga ronca com a fome matinal. Apenas testemunhamos tudo isso com a mente alerta, plena, sentados imóveis com a coluna ereta.

Essa mente alerta, plena, que abarca tudo o que emerge nesse instante é chamada de amente maravilhosamente satisfeita. Ela é satisfeita justamente porque abarca tudo, nada exclui e a nada se apega, sem discriminações. É satisfeita porque nada procura, nem mesmo a iluminação ou qualquer outro estado especial. Como ela nada procura, ela nada rejeita. E assim é satisfeita na realidade tal qual ela é. Satisfeita com a ave que canta, a formiga que passa, a memória, o pensamento e tudo o mais que emerge neste instante. De fato, a mente maravilhosamente satisfeita sabe que não só a formiga passa, mas tudo o mais que aparece diante dela. Tudo passa, e a mente está maravilhosamente satisfeita com isso.

A grande questão dessa prática é: você está satisfeito em sua vida?
O sino toca e a meditação termina. Levantamos, arrumamos nosso assento e vamos
para a primeira refeição do dia. Vamos para o desjejum com fome, mas a mente está satisfeitamente faminta. Porque ela nada exclui, nada rejeita.
Comemos toda papa de arroz da tigela, não sobra nem uma partícula. Agora estamos satisfeitamente saciados.
A mente satisfeita não é uma mente passiva, inerte. Depois da refeição matinal todos vão trabalhar no mundo objetivo. Cortar grama, arrancar ervas daninhas, colher verduras, lavar os banheiros, varrer, arrumar, consertar a cerca quebrada do templo. Fazer o almoço. Tudo isso é realizado com mente satisfeita, que não luta contra o que deve ser feito e nem cobiça aquilo que não lhe pertence.

Tampouco a mente satisfeita é acomodada. Isso porque ela está praticando constantemente o desapego e a atualização do presente. A cada instante ela se atualiza, se sincroniza com a realidade presente, largando para trás emoções, pensamentos e sensações de apego. Ela é dinamicamente satisfeita.
A mente maravilhosamente satisfeita é praticada a cada minuto, em cada atividade, em cada porção integral e contínua do aqui-agora. Praticando assim, não haverá espaço e nem tempo para a insatisfação, porque simplesmente o espaço-tempo é uma continuidade que preenche plenamente a mente satisfeita.
Essa satisfação não pode ser alcançada através das coisas que estão fora de nós. Mas você pode voltar sua atenção para dentro e conhecer a mente maravilhosamente satisfeita que já existe em seu interior.

Fonte: mokusen.wordpress.com

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